Com a crença e a percepção de que existem empresas privadas com o compromisso de ajudar a construir uma sociedade mais justa e igualitária, abro uma discussão que penso ser importante. Para as demais empresas privadas, que não são poucas, entendo que elas estão no seu direito inalienável de somente desejar obter lucros dentro de uma sociedade capitalista. Portanto, nada contra essa perspectiva empresarial, já que essas empresas pagam os seus impostos e possibilitam empregos diretos e indiretos. Ou seja, estão dentro das regras do jogo, que ao longo do tempo está se modificando.
Apenas faço essa distinção para manter as bases de um diálogo sem “misturar estações”. Este artigo é dirigido aos responsáveis por empresas que necessitam, lógico, obter lucro para sobreviverem, mas que possuem nos seus planos estratégicos um DNA de inserção social real e acreditam que podem fazer diferença nos seus respectivos campos de atuação.
Vou remar contra a maré da crença de que as tecnologias digitais conectadas _ a Web sendo uma delas _ são somente importantes devido às redes sociais, pois segundo o senso vigente, esses sistemas são compostos por usuários conversando, logo, essas pessoas são potenciais consumidores ou clientes. Raciocínio altamente aceito e copiado. Assim, todas as baterias e ações das empresas estão voltadas para pertencer a esse universo e dele tirar o melhor proveito possível. Mas esse é só um dos tipos de estratégia na rede. Como dito em artigos anteriores, a Internet (Web) é uma tecnologia com características de sistema complexo. Assim, possui a possibilidade implantar diversos tipos de atuação.
A imagem que faço da estratégia do uso somente das redes sociais é que as tecnologias digitais conectadas são uma grande espaçonave com várias portas de entrada, mas todo muito só vê uma porta (que foi encontrada e desbravada). Nessa metáfora, a luta para entrar e conquistar o seu espaço é dura e muita gente sairá ferida.
Mas por que os estrategistas não enxergam as outras portas? Uma das respostas é, provavelmente, porque alguns deles não estão preparados para perceber que elas existem.
Tecnologia Social
Tecnologia Social é um termo utilizado entre os pesquisadores do campo da Filosofia da Tecnologia, como o cientista brasileiro Renato Dagnino (Unicamp) e o pesquisador em Philosophy of Technology in the School of Communication (Simon Fraser University) Andrew Feenberg.
O conceito baseia-se no uso da tecnologia para inserção social, que é diferente da inclusão digital. Não confundir também com a tecnologia convencional enraizada nas empresas, com objetivo de resolver problemas e otimizar processos. A Tecnologia Social é bem diferente, nos seus procedimentos e propósitos, das tecnologias utilizadas no dia-a-dia das corporações. O foco é outro. É a sua adoção para construção de uma política de inserção social das empresas, via software. Essa estratégia depende da criação de cultura de uso das Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) voltado para a produção de softwares de uso livre pela sociedade.
A proposta em seu entendimento é bem simples e exequível, mas demandará investimento e tempo. Ou seja, duas variáveis que as empresas que miram resultados imediatos não consideram, nem com reza brava. Entretanto, os efeitos da implantação desses dispositivos, ao longo do tempo, podem ser duradouros.
Cada empresa potencializando o seu expertise
Cada empresa possui um tipo de expertise que faz o seu produto ou serviço ser competitivo. Parte dessa expertise pode ser modelada e formalizada em códigos de programas. Só essa modelagem já é um grande trabalho de formação de capital social. A partir disso, produzir sistemas (softwares) que possam ser disponibilizados gratuitamente no site da empresa e também em webrings de downloads. Escolas, instituições não-governamentais, clientes e demais internautas podem se apropriar desses sistemas e, através deles, obter informações relevantes para o seu cotidiano.
Algumas empresas, como a Petrobrás, já disponibilizam no seu site serviços importantes para o consumidor, mas são tecnologias “webbrowseadas”. Só tem acesso quem entra no website. Se a estatal fornecesse um software, que tivesse a mesma política de atualização dos softwares proprietários que conhecemos, ela teria uma expansão da sua marca para as plataformas móveis, por exemplo.
Esse programa teria os sistemas que são acessíveis através do seu website (como a busca por postos de gasolina), de forma integrada, e outros a serem construídos, como o serviço que mostraria qual o melhor momento no mês para abastecer com álcool ou gasolina, dependendo da localização do consumidor e dos preços cobrados nos postos em que a Petrobras garante a qualidade do combustível.
Essa estratégia é bem diferente de inserir a revista da empresa no iPad, que é louvável, e construir jogos no Facebook como o Estacionamento Bonito, continuidade do projeto “Petrobras De Carona Com Elas”.
Essa não é uma crítica à Petrobras, Apenas um exemplo de que podemos caminhar mais com o uso das Tecnologias Sociais.
A proposta que descrevo se aproxima da visão do teórico Lev Manovich, que defende que o software é uma mídia. Ou seja, se as empresas quiserem, podem ter outras formas de conexão com o seu público, prestando serviços na sua área de atuação, pois são especialistas, disponibilizando softwares com o propósito real de inclusão social.
FONTE: CIO UOL