13/3/2012 "Kony 2012" chega a 100 milhões de views e é vídeo mais viralizado da história
O vídeo de 30 minutos sobre um líder guerrilheiro em Uganda chamado Joseph Kony tornou-se nesta segunda (12) o que mais rapidamente espalhou-se (ou "viralizou" na história).
Em apenas seis dias, "Kony 2012" chegou à invejável marca de 100 milhões de visualizações. Com isso, a peça, que pede a prisão do criminoso, levou três dias a menos que o segundo colocado, a participação da cantora Susan Boyle no programa de TV Britain’s Got Talent.
Os dados foram publicados pela empresa de pesquisa de mídia Visible Measures (veja gráfico abaixo).
Mas quem é Kony, e por que este vídeo é tão polêmico?
Joseph Kony é o líder do Exército de Resistência do Senhor (LRA na sigla em inglês), um perigoso grupo religioso e militar que atua em Uganda e em países vizinhos da África. O LRA é acusado de assassinatos, sequestros e uso de crianças nos conflitos – eles aliciaram cerca de 30.000 crianças nos últimos 20 anos. Kony fugiu de Uganda há seis anos, caçado pelo exército do país, e o LRA perdeu muito de sua força em Uganda, mas continua ativo em áreas remotas de países vizinhos.
Então a instituição de caridade Invisible Children criou um vídeo de 30 minutos para tornar Kony famoso, “não para celebrá-lo, mas para obter apoio para sua prisão e criar um precedente para a Justiça internacional” – eles igualam Joseph Kony a Adolf Hitler. A Invisible Children quer que os EUA intensifiquem sua presença em Uganda, hoje limitada a 100 consultores militares, para encontrar e julgar Kony em tribunal internacional — ele já foi indiciado por crimes de guerra pela Corte Criminal Internacional. A mensagem é simples: Stop Kony. E ela se espalhou – e rápido.
Kony é o menor dos problemas
Muitos questionaram o foco da campanha em Kony: ele fugiu de Uganda há seis anos, e está enfraquecido assim como o LRA, que está na ativa apenas em áreas remotas do Congo, Sudão do Sul e República Centro-Africana. Ninguém discute o mal que Kony fez para o país africano, e seria importante para a moral daquele povo que ele fosse trazido à justiça. Mas a escolha desse alvo pode ter sido mais pela facilidade de vender uma “causa” (é mais fácil ver o “mal encarnado”, como em Hitler) do que pela urgência da questão.
O premiado jornalista ugandês Angelo Izama diz que o vídeo é um retrato “de uma era que já passou”. As crianças que antes fugiam para não serem sequestradas e alistadas hoje “são semi-adultos”, sofrendo com desemprego, prostituição e HIV/AIDS. E hoje, as “crianças invisíveis” que intitulam a instituição de caridade não sofrem com Kony e o LRA – sofrem de doenças como uma síndrome neurológica incurável que as faz ter convulsões e as impede de comer direito. A síndrome afeta mais de 4.000 crianças no norte da Uganda.
E como lembra Michael Wilkerson, jornalista que já morou e trabalhou em Uganda, o país tem outros problemas enormes: o presidente Yoweri Museveni entrou no quarto mandato em 2011, ultrapassando 25 anos no poder. O governo é fortemente suspeito de corrupção e acusado de violar direitos humanos. E o país pode ficar mais poderoso com as enormes reservas de petróleo na fronteira com o Congo. Como “parar Kony” resolveria algum desses problemas? A Invisible Children reagiu às críticas, mas não respondeu a essa pergunta.
É impressionante como a instituição Invisible Children conseguiu emplacar um vídeo de 30 minutos tão rápido, reunindo a atenção e apoio de milhões ao redor do mundo — e é bom que as pessoas das redes sociais, tão acostumadas a ver só frivolidades, sejam expostas a questões importantes do resto do mundo de quando em vez.