Esqueça tudo o que você já viu e ouviu sobre futurologia. Robôs, inteligência artificial, realidade aumentada, nanotecnologia e tantas outras coisas, que antes só eram vistas nos filmes de ficção científica, hoje já são realidade. E mais: estamos prestes a entrar em uma era onde tudo estará conectado.
São essas as palavras do físico norte-americano e professor da Universidade de Nova York, Michio Kaku, que, em palestra no último dia da Campus Party (11/02), em São Paulo, anunciou algumas previsões tecnológicas que estarão em nossas vidas daqui dez anos, entre elas a extinção dos computadores, a construção de órgãos humanos em laboratórios e até mesmo a cura para o câncer.
Mas antes, um breve parágrafo: você sabe por que os cientistas elaboram tantas teses? E por que devemos acreditar que essa revolução eletrônica está tão perto de acontecer? Segundo o próprio Kaku, a riqueza das coisas vem da ciência, mas ela não é uniforme, e sim em forma de "ondas". O exemplo citado é de que as grandes crises econômicas que marcaram as gerações fizeram parte de um processo chamado "bolha": com o aumento das invenções, as melhorias de vida continuam a crescer até gerar um efeito reverso ao crescimento, ou seja, os recursos não são suficientes para suprir a demanda, criando, assim, um sistema para reduzir custos. Quando esses custos não são contidos, o resultado final vem em forma de crise nas bolsas de valores mundiais, "estourando" a bolha.
A primeira onda veio em 1850 com a máquina a vapor, a primeira locomotiva e as fábricas. A segunda, em 1929, pela eletricidade e o automóvel. A terceira e mais recente, em 2008, pela alta tecnologia dos computadores, GPS, internet e celulares (que afetaram principalmente o setor imobiliário). Agora, Kaku, mais conhecido como o "físico do impossível", afirma que uma quarta onda, provavelmente ocasionada pela inteligência artificial e a nanotecnologia, está por vir no ano de 2090, e que nós, desta geração, seremos os responsáveis por ela.
Internet: em todos os lugares e em lugar nenhum
Voltando às teses futurísticas, o físico norte-americano ouviu 300 dos principais cientistas do planeta para desenvolver melhor suas pesquisas, e explica que algumas coisas da nossa geração já podem ser previstas. O poder dos computadores, por exemplo, dobra a cada 18 meses; logo, é possível prever como será um PC daqui dez anos. Para Kaku, a força computacional estará em todos os lugares, ao mesmo tempo em que não estará em nenhum lugar (assim como a eletricidade, que está no chão, no teto, nas paredes, mas não a vemos).
"Os computadores que conhecemos hoje deixarão de existir, e a internet estará em tudo - incluindo os seus óculos, que serão capazes de reconhecer os rostos das pessoas e ver suas biografias. Elas vão falar chinês e você vai ler as legendas do idioma bem diante dos seus olhos", declarou. Bem humorado, Kaku brincou ao dizer que "será perfeito para alunos em época de provas finais, que só vão precisar piscar para aparecer todas as respostas do teste".
Não só estudantes farão uso do produto, mas também atores, políticos, militares em campo de batalha, turistas, astronautas e até quem procura por um namorado ou namorada. "Ao passar por alguém na rua, os óculos vão identificar quem está disponível para você. Os turistas, ao visitarem o Coliseu de Roma, por exemplo, verão o império romano inteiro em uma “ressureição” de realidade aumentada". Para os que não usam óculos, a alternativa será lentes de contato com as mesmas funções.
Quanto aos aparelhos eletrônicos, Kaku afirma que as televisões 3D vão dispensar o uso de óculos especiais. Os escritórios do futuro terão computadores descartáveis que custam 1 centavo cada. Carros vão dirigir sozinhos, sem motorista. As lojas, através de seu cartão de crédito, terão informações sobre o seu tamanho e número para que você tenha suas medidas tridimensionais, customize as roupas de acordo com seu gosto ou necessidade e receba os pedidos em casa. Você vai saber quanto cada coisa custa, qual estabelecimento tem o produto mais barato e qual a opinião dos consumidores.
Todos os comandos para controlar esses aparelhos será feito através da mente. Esse mecanismo já existe na forma de um sensor colocado na nuca capaz de captar as ondas de rádio de um chip em seu cérebro para que você controle os objetos do ambiente. Até quem sofre de paralisia cerebral ou esclerose lateral - como é o caso do também cientista Stephen Hawking - terá a capacidade de comandar os computadores apenas com o poder do pensamento.
Biotecnologia: o câncer deixará de existir
A medicina será uma das áreas mais beneficiadas no futuro. Hoje, já existe um chip tão minúsculo que pode ser inserido dentro de uma pílula, mas amanhã a tecnologia medicinal será ainda melhor: nanopartículas terão o poder de destruir células cancerígenas, uma por uma, sem quimioterapia ou outros tratamentos. O vaso sanitário da sua casa, por exemplo, terá um chip que vai identificar proteínas e fragmentos de DNA nos seus fluidos corporais. Dessa forma, um câncer, por exemplo, será detectado 20 anos antes de se formar no organismo. "Lembrem-se do que vou dizer: a palavra tumor vai desaparecer do nosso vocabulário", disse Kaku.
O DNA, aliás, será uma informação de bem comum e acessível para todos. Atualmente, você tem de desembolsar US$ 50 mil dólares para sequenciar os dados do seu corpo e obter praticamente tudo o que há nele. Daqui dez anos, esse valor vai cair para apenas US$ 100, e qualquer pessoa poderá obter seus genes em um dispositivo móvel, que funcionará como um "manual do proprietário", incluindo os registros dos seus acestrais de vinte mil anos atrás.
Não é ficção científica: órgãos do corpo humano serão impressos, e alguns até vendidos em lojas de "peças" humanas. Nariz, vasos sanguíneos, traqueia, bexiga, ossos, pele e boa parte dos órgãos do corpo serão construídos com células do corpo do próprio indivíduo afetado. "Dentro de cinco anos teremos um fígado feito a partir da sua própria célula. Então, aos que consomem bebida alcoólica, isso vai cair muito bem", brincou Kaku.
Até mesmo a morte poderá ser driblada, pois já está em desenvolvimento um recurso chamado "morte reversível": se alguém sofrer um grave acidente, por exemplo, terá o sangue substituído por uma substância capaz de diminuir a temperatura corporal para -10º C - algo como congelar a pessoa para mantê-la viva, antes de realizar qualquer procedimento. Com isso, logicamente, a expectativa de vida vai aumentar.
Robótica: inteligência artificial
Os robôs do futuro, autoprogramáveis e autoconscientes, serão verdadeiros parceiros para o ser humano. Um exemplo que já existe é o "Asimo", uma máquina robótica considerada a mais avançada do mundo hoje. O robô consegue caminhar, correr, subir escadas e dançar. Contudo, o próprio inventor do aparelho admite que a inteligência do Asimo é equivalente à de uma barata.
"No futuro, os robôs serão tão espertos quanto um rato, um gato ou um cachorro. Talvez, depois desse estágio, alcançarão a inteligência de um macaco e, algum dia, podem até ser mais inteligentes que o próprio ser humano. Mas isso ainda está muito longe de acontecer", disse Kaku.
Além disso, a criação de robôs em grande quantidade vai causar demissões em trabalhos repetitivos e dará espaço ao capitalismo intelectual, onde somente empregos semi repetitivos continuarão a existir (pedreiros, serviços de limpeza, jardineiro, músicos, artistas). Ou seja, toda e qualquer função ou atitude que um robô (ainda) não consegue fazer.
"Vocês estão criando o futuro para a quarta onda. Por isso lembrem-se: a economia mundial vai se tornar um capital intelectual, e não de commodities", concluiu.
FONTE: Olhar Digital