Os líderes de TI já entenderam que para serem realmente úteis, os aplicativos móveis têm de nascer como móveis e não meras adaptações de aplicativos prévios feitos para o Windows ou o Mac OS. Eles precisam ser desenvolvidos a partir do zero, não só para funcionar bem dentro dos limites das telas de dispositivos móveis, memória e poder de computação limitados, mas também para tirar proveito de recursos que tradicionalmente não estão disponíveis em desktops, como múltiplas câmeras, telas sensíveis ao toque, animação e comunicação multimídia.
Criar uma aplicação desde o início para um dispositivo móvel, em vez de adaptar aplicativos de desktop para um smartphone, “é chegar a um novo paradigma que faz todo sentido”, diz William Clark, vice-presidente de Pesquisas do instituto de pesquisas Gartner.
De acordo com dados do Gartner, publicados em junho de 2011 como parte do seu relatório “Quadrante Mágico para Plataformas Móveis de Aplicativos para Consumidores”, 5 bilhões de smartphones estavam em atividade em 2010 e esse número deverá exceder 6,7 bilhões até 2015, criando enormes oportunidades para empresas de consumo.
Segundo o estudo do Gartner, o desenvolvimento de aplicativos móveis voltados para o consumidor continuará a ultrapassar a criação de aplicativos para web e outras modalidades até 2014. Trata-se de movimento comprovado por pesquisa recente da revista CIO, que ouviu 261 líderes de TI sobre suas prioridades. Desse total, mais da metade, 54%, declarou planejar gastar mais com aplicações móveis.
Por hora, os aplicativos móveis para o público interno da empresa estão ficando atrás dos aplicativos voltados para o consumidor, segundo o Gartner, mas os CIOs já começam a explorar novos meios de utilizar tais aplicativos para aumentar a produtividade dos funcionários e seu tempo de resposta.
Por outro lado, Clark, do Gartner, preocupase com a “fragmentação e o caos” do mercado móvel, no qual atualizações e novas versões dos sistemas operacionais móveis pipocam o tempo todo, tornando extremamente difícil para uma empresa desenvolver e executar estratégia coerente. E ter uma estratégia é fundamental para as companhias, com o qual analistas e CIOs concordam.
Na empresa de seguros Erie Insurance, a TI desenvolveu um aplicativo para iPhone que permite aos clientes informar sobre danos ou acidentes em sua propriedade antes de preencher um relatório de danos mais completo, segundo Eric Miller, vice-presidente sênior de TI. Aplicativos móveis também foram uma escolha óbvia na hora de criar um sistema para que os agentes de seguro possam avaliar no local do acidente os danos em um veículo.
“Não seria viável para os nossos agentes tirar fotos de um eixo de carro usando um notebook, mas com um iPhone é só piscar os olhos”, diz Rich Warnaka, diretor de Experiência do Usuário da Erie Insurance, que fatura 4 bilhões de dólares ao ano.
Outra coisa. Migrar para o conceito de “móvel primeiro” exige que os gestores de TI repensem a mistura de talentos e especialização que eles possuem nos times de design de aplicações, desenvolvimento, gerenciamento e manutenção. Como parte de sua estratégia de múltiplas fases de mobile, a Matson distribuiu as responsabilidades entre dois grupos na TI, explica Cherukuri.
O grupo global de gestão de equipamentos está encarregado de escolher que plataformas móveis suportar e as ferramentas e tecnologias para gerenciá-las. O grupo de aplicativos realiza pesquisas e conversa com usuários para determinar quais aplicativos vão oferecer benefícios abrangentes para funcionários e consumidores, explica Cherukuri.
Embora geralmente o CIO e o time de TI sejam os encarregados de definir a estratégia de aplicações móveis, essa nem sempre é a regra. A participação ativa de outros grupos de negócios da empresa é fator crítico apontado por todas as fontes do mercado.
A Marcus & Millichap recentemente criou um comitê de gestão para desenvolver um processo formal de escolha de ideias para apps móveis internos e criar uma estrutura para “construir, testar e implementar soluções inovadoras” diz Peltz. O comitê inclui gerentes regionais, usuários de negócios e vários diretores, que vão prover os recursos e os critérios de urgência por trás dos projetos, explica o CIO.
Na AARP, o Grupo de Estratégia Digital está separado de TI. Hassanyeh reporta-se ao vicepresidente- executivo e diretor de comunicações e não ao CIO. Seu grupo é responsável por encarar os aspectos ligados aos consumidores de aplicações móveis, pelo desenvolvimento, gestão e suporte. TI é responsável pelo banco de dados, as aplicações de desktop internas e serviços de backup, internet e segurança.
A AARP não está desenvolvendo apps móveis para uso interno atualmente, diz Hassanyeh. O Grupo de Estratégia Digital agrupa desenvolvedores, administradores de sistemas, times que cuidam do marketing on-line, equipe de conteúdo on-line e social media e time de produção que mapeia a estratégia de desenvolvimento de novos aplicativos móveis e para a web baseados no que os usuários estão pedindo, explica Hassanyeh.
Outra questão-chave para os estrategistas de mobilidade é definir se uma aplicação específica ou se todas as aplicações da empresa serão móveis primeiro ou unicamente móveis. Embora alguns CIOs e desenvolvedores tratem os sistemas móveis e desktop como elementos diferentes, muitos apostam nos benefícios de desenvolver um aplicativo móvel primeiro e depois migrá-lo para os desktops ou para a web.
Forçar os desenvolvedores a trabalhar com telas pequenas dos equipamentos móveis e recursos de processamento limitados aumenta a eficiência e a efetividade, diz Miller, da Erie Insurance. “Eles precisam manter-se focados nas atividades dos usuários porque não temos espaço vago para jogar tudo na tela como você faria numa tela de desktop ou na web convencional.”
O grupo de Miller agora está entrevistando clientes potenciais de apps, sejam eles empregados ou consumidores, para “identificar suas necessidades e desejos” antes de ir para frente com uma aplicação. “Você acaba desenvolvendo muito menos, reduzindo seu tempo de entrega final e agradando mais os consumidores”, garante Miller. “Por isso, decidimos por “móvel primeiro” para todos os nossos aplicativos”, diz ele.
“O desktop é como uma carpa nadando numa banheira de bebê; ela cresce até tomar todo o espaço disponível”, diz Luke Wroblewski, que trabalhou como diretor de produtos e cofundador da Bagcheck.com. [A companhia foi comprada pelo Twitter em agosto de 2011]. A mesma imagem vale para páginas web, diz Luke, e por conta disso a tela fica lotada de dados irrelevantes que podem distrair ou frustrar os usuários.
Wroblewski adotou o “móvel primeiro” no Bagcheck.com, um serviço que permite compartilhar informação e fotos de objetos relacionados a interesses, experiências ou hobbies. Ainda que a empresa fosse formada por apenas três pessoas, ela enfrentou as mesmas questões ligadas ao desenvolvimento móvel que afetam as grandes companhias, diz Wroblewski, ex-chefe de Arquitetura de Design do Yahoo. “O uso móvel está crescendo tão rápido que vai ultrapassar os desktops e os PCs em um ou dois anos. Temos de nos preparar para uma virada inevitável.”
FONTE: IDG NOW