Uma polêmica se estabeleceu colocando supostamente em conflito as bandas de 2,5 GHz e 700 MHz para 4G no Brasil. Dizem que algumas operadoras não desejariam a banda de 2,5 GHz porque gostariam de antecipar o leilão de 700 MHz. Vou procurar neste artigo esclarecer por que esta é uma polêmica desnecessária. O que deveria estar na base deste debate é, ao contrário, como prover uma implantação de 4G atendendo ambos aos requisitos de cobertura e capacidade. Como se sabe, a banda de 2,5 GHz é uma banda de capacidade enquanto a de 700 MHz é de cobertura.
A introdução de novas tecnologias de telecomunicações móveis é sempre feita, idealmente, combinando bandas baixas (de cobertura, abaixo de 1 GHz) com altas (de capacidade, acima de 1 GHz). Deste modo, a nova tecnologia pode rapidamente ganhar cobertura ampla ao mesmo tempo em que as operadoras dispõem de uma banda com capacidade para enfrentar áreas de pico de tráfego e alta demanda. Esta combinação ideal entre bandas baixas e altas, porém, depende dos ativos de espectro que cada operadora possui, variando muito portanto.
A quarta geração de telefonia celular (4G) está começando no mundo com uma banda baixa (o dividendo digital, também conhecido como 700 MHz) e uma alta (2,5 GHz). É uma combinação perfeita. No Brasil, a presidente Dilma Rousseff fixou, por decreto, que até o final de abril teremos leilão de 2,5 GHz. Então, começaremos a implantação de 4G, por aqui, pela banda alta, de capacidade. Isto se encaixa bem no objetivo central do Governo de prover serviços de 4G na Copa do Mundo de 2014 e nas Olímpiadas de 2016. Serão 12 cidades cujas áreas centrais de transporte, turísticas e esportivas poderão ser cobertas com 2,5 GHz, prevendo um período de grande utilização durante estes eventos esportivos, mas deixando um legado importante para esas populações urbanas. Outro aspecto importante do 2,5 GHz propiciar as mais largas bandas de espectro no mercado, com três faixas pareadas de 2 X 20 MHz a serem leiloadas. Esta será a única oportunidade em muitos anos para uma operadora adquirir esta quantidade de espectro contínuo. Isto é importante porque a performance do 4G é maximizada a partir de 2 X 20 MHz.
Quanto ao 700 MHz, estamos constrangidos pelo plano de migração da TV analógica para a digital, cuja finalização está prevista somente para 2016. Isto dá uma margem de conforto para o Governo postergar esta discussão. No entanto, seria importante iniciarmos esse processo de debate mais cedo, dada a fundamental importância que o espectro de 700 MHz tem para a evolução da banda larga, notadamente no que concerne a cobertura de áreas de mais baixa densidade demográfica.
Declarações recentes de representantes de operadoras sobre a preferência pela banda de 700 MHz são totalmente naturais, uma vez que só essa faixa permitirá uma ampla cobertura 4G, por ser de cobertura ampla. Contudo, minha leitura é que, no fundo, o que as operadoras querem dizer é que não fará sentido estabelecer metas agressivas de cobertura nos planos de outorga do 2,5 GHz, pois isto só será viável no espectro de 700 MHz. Não faz sentido que o Governo e a ANATEL, queiram atingir com 2,5 GHz objetivos que só o 700 MHz pode entregar. Neste sentido, exigências rigorosas de cobertura não devem ser colocadas sobre a banda de 2,5 GHz, sob o risco de colocar em risco o próprio sucesso do leilão.
O 4G em 2,5 GHz começará cobrindo as principais áreas relacionadas aos jogos das cidades da Copa. Progredirá em hot spots, em harmonia com o 3G, para aumentar a capacidade e a velocidade. A decisão de fazer o leilão de 2,5 GHz até 30 de abril de 2012 já está tomada. O que todos devemos trabalhar, e torcer, é para que este leilão tenha grande sucesso. E, para tanto, é importante reconhecer o que esta banda pode ou não pode fazer. E a sua execução tornará evidente que precisaremos antecipar a migração para a TV Digital e o leilão de 700 MHz — porque o Brasil tem pressa de expandir a banda larga. E não será possível cobrir um país continente com 4G sem 700 MHz. Forçar a barra de cobertura em 2,5 GHz seria contraprodutivo.
FONTE: CIO UOL