Autor: Felipe Dreher
Parte da revolução digital é feita em cima de informação, que assume papel de alavanca de novas oportunidades para geração de negócios. Há toda uma expectativa que esse novo ambiente trará mais competitividade a organizações por meio de abordagens não diretamente ligadas a suas linhas de produção ou atividades primárias. O futuro vai além do processo industrial clássico, resume Cassio Dreyfuss, vice-presidente do Gartner.
Frequentemente, o executivo participa de dinâmicas para pensar a atividade das organizações em uma nova economia. Ao final desses exercícios, que geralmente contam com a presença de líderes de TI e de negócios, a conclusão é simples e, ao mesmo tempo, assustadora: nenhuma indústria ou empresa passará ilesa pela onda da digitalização dos negócios.
Na visão do especialista, cada companhia e executivo descobrirá sua vocação nesse novo mundo que emerge, seja reconhecendo naturalmente sua aptidão para a inovação seja pressionado por um mercado exigindo uma resposta adequada.
Além disso, alerta Dreyfuss, líderes de TI de empresas localizadas em países emergentes precisarão assumir uma postura mais proativa e serem mais velozes na transformação digital a fim de manter a competitividade de suas organizações perante um mundo onde a competição cada vez menos respeita fronteiras de indústrias e geografias.
“Se antes, o acesso à tecnologia no Brasil era raro e caro, agora é apenas caro”, diz. Ele lembra que o ambiente vivenciado em solo brasileiro fez com que os CIOs valorizados no passado tivessem um perfil profissional extremamente técnico, capaz de criar infraestruturas com aquilo que conseguiam obter de recursos a um custo razoável. “Isso não é mais importante atualmente”, enfatiza.
O especialista reforça o discurso e, como muitos de seus colegas, bate mais uma vez na tecla de que vivemos um momento em que o líder de tecnologia das organizações precisa mudar profundamente sua abordagem, posicionando-se definitivamente como um executivo de negócios. “Isso exige mudança de postura bastante radical”, observa.
Fábricas que empregam robôs
O contexto fica ainda mais crítico se pensarmos que a economia brasileira entra em declínio enquanto países como Estados Unidos retomam seu crescimento de maneira intensa. Aliás, vale destacar que a América do Norte passa por um processo de reindustrilização, trazendo de volta a produção de muitos itens que eram montados na Ásia.
A diferença de agora, contudo, é que as novas fábricas instaladas são modernas e altamente automatizadas, o que significa, em muitos casos, que uma planta para montagem de celulares que empregava 2 mil pessoas na China está operando nos EUA com 20 engenheiros que apertam botões e observam se os robôs desempenham o que se espera deles.
Trata-se de um reflexo claro de como a manufatura passa por uma revolução intensa, que não se difere em praticamente nada do movimento (no sentido de aplicação massiva de TI) vivido também em outras indústrias como o setor financeiro, de educação e saúde, cada uma a seu jeito.
Quem é seu competidor?
O contexto macro se soma a necessidade de empresas localizadas em diferentes geografias a estarem aptas a competirem nesse mundo onde uma companhia de base tecnológica pode criar uma solução digital que destrói um nicho específico dentro da vertical de transportes, para ficarmos apenas em exemplos mais óbvios.
“Em um mundo globalizado, essa onda certamente afetará empresários brasileiros, que terão que responder a esse desafio da competitividade”, avalia Dreyfuss, que define: “Não existe mais barreira. Vai ter que ter um nível de, pelo menos, paridade com o competidor estrangeiro”. Segundo o VP, o CIO brasileiro precisará tomar várias providências para se tornar um líder de negócios. “É difícil, mas é possível”, reconhece.
O especialista observa que há muitas possibilidades no horizonte. “Uma coisa interessante da economia digital é que a competitividade não exige altos investimentos em hardware ou ativos. Essa economia digital será alavancada em cima de informação e criatividade no uso da tecnologia”, acredita, sinalizando que a situação, aparentemente assustadora, pode ser um trampolim para que a indústria nacional retome competitividade.
Adapte-se e sobreviva
O CIO precisa mudar de perspectiva e enxergar não a TI suportando o negócio, mas sendo um dos componentes do negócio. Os líderes de tecnologia precisam adotar uma postura proativa e sugerir ideias. “E isso não acontece de graça ou da noite para o dia”, comenta Dreyfuss.
A parte boa é que, apesar de urgente, há tempo para seguir no rumo da transformação e esse ritmo dependerá do quanto a indústria onde sua organização está posicionada avança rumo a digitalização dos negócios. Ao executivo pede-se que imagine como a economia digital afeta seu negócio para estabelecer urgências e prioridades e ver a velocidade que será necessário caminhar.
A abordagem para traçar os rumos considera imaginar seus competidores atuais e empresas de outras verticais que possam competir com o negócio onde sua empresa atua. Olhe para os lados porque, em um mundo sem fronteira, novos concorrentes surgem do nada. Segundo o Gartner, isso ajudará a desenvolver uma visão e um percurso a seguir.
Quem quiser subir de patamar precisará ter uma visão que vai além dos manuais técnicos. Esses profissionais precisarão estar por dentro do que está acontecendo dentro da indústria onde sua empresa atua, o que há de disponível, quais as tendências e o como a tecnologia pode revolucionar o segmento a partir da criação de novos modelos de receita. E essa aproximação para utilização de recursos computacionais é algo que só um líder de TI pode dar.
No final do dia, há um elemento fundamental no perfil do CIO do futuro: a criatividade. Afinal, de nada vale ter acesso a milhões de novas ferramentas se não houver uma visão de como aquilo pode virar uma nova receita. As empresas pedirão ao executivo para que ele seja capaz de pensar o que ainda não está disponível ainda para inventar um novo futuro. “Não é uma questão de educação formal”, resume Dreyfuss.
“A inovação muda de característica. Não existe mais o gênio da lâmpada”, enfatiza o vice-presidente do Gartner, apontando para uma abordagem que considera tecnologias não tão caras. “Aproveite que os grandes projetos dificilmente irão sair do papel esse ano para explorar tecnologias digitais”, recomenda. “É quase uma dicotomia entre manter as operações ao custo mais baixo possível tentando destinar algum dinheiro para ampliar a competitividade com ferramentas digitais”, conclui.
Quatro recomendações para se transformar em um líder digital
As possibilidades de redefinir mercados e criar modelos de negócios inovadores a partir de novos conceitos tecnológicos transformarão de maneira profunda as regras de competição. Os executivos responsáveis pelas estratégias de TI das empresas terão papel fundamental em um contexto de economia digital, afinal, são eles que conhecem as ferramentas e podem ocupar uma posição de destaque na tarefa de posicionar ofertas e encontrar vertentes para exploração de novas receitas
A revolução rumo a digitalização ainda é recente e não há clareza sobre quem serão os líderes ou, até mesmo, os competidores nesse cenário que se desenha. O Gartner aponta, porém, para um ambiente ainda sem regras totalmente definidas e um cenário de imensas oportunidade para quem estiver disposto em adotar uma postura de inovação.
A consultoria observa desafios fundamentais no horizonte. Um deles, e talvez o mais importante, toca a capacidade de se imaginar negócios ainda não pensados e que serão capazes de redefinir negócios de maneira intensa, rompendo barreiras de indústrias. Nesse contexto emerge a necessidade de profissionais de TI com altos graus de criatividade capazes de pensar soluções com altos níveis de disrupção.
Para quem quiser seguir o rumo em busca de uma posição de destaque em uma economia digital, o Gartner recomenda quatro abordagens que deveriam ser perseguidas pelos CIOs:
1. Trabalhe próximo aos CEOs e a outros líderes de negócio para pavimentar uma estrada e criar uma visão quanto ao futuro digital da empresa;
2. Crie e desenvolva novas redes de relacionamento, principalmente fora do contexto tradicional de tecnologia da informação. Coloque profissionais de TI e de áreas distintas da organização para pensarem, testarem e executarem projetos em parceria;
3. Seja um evangelizador dos executivos de negócio quanto a novos modelos de negócios digitais propondo abordagens criativas e inovações capazes de trazer ganhos tangíveis e intangíveis a partir do uso de informações. Faça isso aproveitando recursos computacionais que exijam baixo investimento;
4. Canalize o foco para montagem de um time coeso e abrangente. Esse pode ser um fator de sucesso em um ambiente digital. Monte um plano para recrutamento e desenvolvimento de talentos da equipe de acordo com os rumos que sua empresa almeja seguir.
FONTE: CIO