Autor: Cezar Taurion
Todas as empresas estão diante de mudanças significativas. Muitos conceitos estabelecidos ao longo de décadas estão em cheque. Por exemplo:
a) Sucesso no presente não garante sucesso no futuro. O mundo muda muito rapidamente. Vejam que a própria loja iTunes já está perdendo espaço para Amazon e o modelo de streaming.
b) Tudo que puder ser transformado em bits, o será. Ou seja, o futuro será cada vez mais digital.
c) Tempo é inimigo. Colapsos acontecem de forma imprevista, e um exemplo é o próprio fim da URSS. Esperar para ver o que vai acontecer com os outros não é mais alternativa…
d) As regras, limites e estrutura das indústrias e da competição estão em constante mudança. Olhar apenas para seu setor restringe a visão de inovação.
Este contexto leva, por um lado, os executivos das empresas a verem as (r)evoluções tecnológicas como fundamentais para a competitividade. Mas, por outro lado, questionam o papel da TI corporativa neste processo. Fazem claramente a distinção entre a importância da tecnologia e a importância do papel da TI corporativa. Isto fica evidente quando analisamos duas pesquisas da IBM com CEOs. Em uma delas, o “CEO Study 2012”, para a pergunta “Quais são as forças externas mais importantes que terão impacto na sua organização nos próximos 3 a 5 anos?”, a maioria das respostas elegeu, em primeiro lugar, os fatores tecnológicos. Mas, em outra pesquisa, a “CEO Concerns 2012 and the IT Implications”, para a pergunta “Quem tem a responsabilidade em liderara o programa de gerenciamento da inovação em sua organização?”, o CIO aparecia em oitavo lugar. Para a pergunta: “Quais as duas posições que apoiam mais de perto o CEO nas mudanças estratégicas para o seu negócio?”, novamente o CIO aparecia em oitavo lugar. Péssima situação!
Portanto, a TI corporativa, como a conhecemos hoje, está diante de um desafio. Não atende mais aos anseios e necessidades do cenário de negócios. E isso tem que mudar. A TI corporativa tem que se adaptar ao mundo no qual os funcionários das empresas e os clientes estão cada vez mais conectados. Em 2002, cerca de 80% do desempenho dos funcionários dependiam deles mesmos. Hoje, cada funcionário interage com pelos menos 10 outros para efetuar sua tarefa, e seu desempenho depende da eficiência do grau de conexão disponível entre ele e seus pares, bem como com seus clientes. Cerca de 2/3 dos funcionários atuam de forma muito mais colaborativa do que há três anos.
As mudanças nos modelos organizacionais e no cenário de negócios são uma constante, e seu ciclo vem se acelerando. Em consequência, os objetivos e estratégias não se mantêm mais por longo tempo.
Cada vez mais a produtividade das empresas depende do fortalecimento dos funcionários para tarefas menos padronizadas, como vendas, customer service, inovação e marketing, uma vez que os processos mais passíveis de automatização e padronização, como finanças, faturamento e controle de estoque, já são suportados pela TI tradicional, através de sistemas como os ERPs.
E, indiscutivelmente, a oferta de tecnologia é cada vez mais diversa e abrangente e entra nas empresas pelos funcionários, não mais pela TI. É o processo de consumerização e fenômenos como BYOD, BYOA e BYOC. A consultoria IDC estima que em 2016 mais de 80% dos investimentos de TI terão decisões ou envolvimentos diretos dos executivos de linhas de negócios, e não apenas de TI. Na prática, com a disseminação da tecnologia, os usuários estão cada vez mais imersos e experientes no seu uso, e menos dependentes da expertise profissional do setor de TI. O próprio fenômeno de “shadow IT”, que é a ação do usuário baixar apps e adquirir serviços em cloud, desvia do setor de TI.
Este cenário obriga a TI corporativa e os CIOs a se re-iventarem. Será necessária uma nova maneira de pensar, novos skills e novos procedimentos. TI deixa de ter o monopólio da oferta de produtos e serviços de tecnologia para empresa. TI deverá oferecer não apenas automatização de processos, mas deverá atender essencialmente às demandas de melhor experiência do cliente/usuário, analisar dados de forma rápida e eficiente para tomada de decisões de negócios, e facilitar a conexão entre os funcionários, e entre a empresa e seus clientes e parceiros de negócios. É uma TI voltada para o mundo externo, não apenas para dentro dos muros da empresa. Definir planos estratégicos de longa duração perde efeito. Os tradicionais PDTI (Planos Diretores de TI) tornam-se inócuos se não forem revistos trimestralmente. Sistemas que levem dois a três anos para serem implementados já entrarão fora de contexto. Pensar em infraestrutura da maneira tradicional também passa a ser estorvo, e não atividade crítica. Provavelmente veremos um modelo baseado em “zero capital” se disseminando pela TI e criando novos modelos de financiamento de recursos tecnológicos.
O que TI deverá desenvolver proativamente? Primeiro a quebra de paradigmas arraigados… Por exemplo, considerar que plataformas sociais não são distrações que baixam a produtividade dos funcionários, mas, ao contrário, são as bases para o aumento desta produtividade. As pessoas estão cada vez mais interdependentes e conectadas, e trabalham de forma colaborativa. Impedir isso implica em baixar a eficiência das empresas. Estamos falando de social business, não apenas de páginas no Facebook.
Entender que as informações internas são apenas uma pequena parcela do total de informações que os funcionários e executivos poderiam usar para efetuar suas tarefas e tomar decisões. As empresas usam, em média, 0,5% do total de informações, internas e externas, que de alguma forma podem ser úteis ao negócio. O conceito de Big Data se encaixa neste aspecto.
A força de trabalho estará cada vez mais móvel, dispor de dispositivos para acessar informações não deverá mais ser privilégio de alguns, mas essencial a todos os funcionários para que efetuem as suas tarefas cotidianas. Mobilidade será a regra, não a exceção.
Redesenhar seus aplicativos para que eles se tornem plataformas onde os interfaces sejam desconectados dos processos embutidos neles. Criar APIs que permitam os usuários a criarem seus próprios interfaces e customizarem suas experiências, necessidades pessoais e preferências de uso. O modelo “one size fits all” para os interfaces propostos pelos modelos de aplicativos atuais, tipo ERPs, terão que ser repensados. Provavelmente o modelo de apps stores internas deverá ser o modelo que irá prevalecer na oferta de soluções para os usuários.
A resultante destas mudanças será uma TI entranhada na corporação, sendo parte integrante do negócio. TI não estará apenas se conectando aos executivos de linhas de negócios, mas falando diretamente com todos os funcionários e, até, com clientes e parceiros. Assim, deixa de ter sentido falarmos em “alinhamento de TI com o negócio”, pois TI será parte do negócio. Entretanto, para suportar esta transformação serão necessárias mudanças nos perfis e skills dos profissionais de TI. Podemos pensar em novas funções, como Social Media Evangelist, Cloud Integration Specialist, Data Scientist, etc. Os desenvolvedores estarão trabalhando com processos ágeis e muito mais preocupados com questões de usabilidade. A figura do User Experience Designer passa a ter papel importante no projeto de sistemas.
E culminando com estas mudanças, a transformação da TI corporativa deverá fazer com que os atuais CIOs passem a ser muito mais Estrategistas Digitais do que executivos operacionais. E, por que não, algo como Chief Digital Officer? Afinal, tudo o que puder ser transformado em bits, o será…
FONTE: Zero Distance