Autora: Cristina de Luca
Há muitos anos a AVG Technologies realiza o estudo AVG Digital Diaries, que mapeia os hábitos digitais de crianças de 2 a 9 anos. No fim de 2013, diante das evidências de que os pequeninos estão navegando cada vez mais cedo, a empresa foi a campo novamente.
Um questionário online foi aplicado a 5.423 pais no Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, República Tcheca, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Brasil. A ele se seguiram entrevistas presenciais, realizadas entre novembro e dezembro de 2013. E os resultados, além de impressionantes, revelam que as crianças passam pelo processo de “amadurecimento tecnológico” cada vez mais precocemente.
Para começar, os pais continuam sendo os grandes responsáveis pela criação das pegadas digitais dos filhos ainda na tenra idade: 80% dos pais de crianças entre 0 a 2 anos já postaram imagens de seus filhos na Internet. A razão mais comum para as postagens é dividir os momentos com amigos e familiares. Muitos pais abrem perfis no Facebook para seus rebentos antes mesmo de eles nascerem e divulgam arquivos de ultrassom para toda a rede de amigos, orgulhosos do bebê que está por vir. Além disso, 81% das crianças com menos de dois anos já têm algum tipo de perfil na Internet.
Segundo os pais de crianças de 2 a 5 anos, 60% delas passam mais de 2 horas por semana online. E as habilidades digitais estão sendo aprendidas antes de habilidades de vida. Mais crianças sabem operar um jogo de computador (66%) do que andar de bicicleta (58%). Mais sabem navegar em um smartphone ou tablet (47%) do que escrever o nome completo (38%). E 28% das crianças nessa faixa etária já sabem abrir um navegador de Internet sem a ajuda dos pais.
O estudo descobriu ainda que 89% das crianças entre 6 e 9 anos são ativas online _ 7% gastam mais de 10 horas navegando na Internet. Nos Estados Unidos e no Brasil este índice está bem acima da média: 12% das crianças entre 6 a 9 anos nos EUA, e 16% no Brasil passam mais de 10 horas online. Metade da galerinha desta faixa etária passa mais tempo conversando, jogando e interagindo em ambientes virtuais do que qualquer outra atividade online. E embora as redes sociais voltadas para crianças (como a Webkinz e a Club Penguin, da Disney) estejam crescendo em popularidade, 19% dessas crianças entre 6 a 9 anos são usuárias ativas do Facebook, apesar da idade mínima permitida ser de 13 anos.
Por isso, a segurança online das crianças é uma preocupação crescente entre os pais. O estudo da AVG descobriu que 64% dos pais dizem usar controle parental para ter mais controle sobre a vida online de seus filhos. E a maioria deles acredita que apenas isso basta para mantê-los protegidos no ambiente digital, quando, na verdade, o modo como as crianças se comportam online é que deveria ser a verdadeira preocupação dos pais. E isso vai muito além dos sites que podem ou não visitar.
O controle parental só se revela eficiente a partir do momento que identificar a qual grupo, relatado a seguir, você e sua família podem ser inseridos. Existem três categorias de atitudes:
Outra preocupação dos pais deveria ser a precocidade na construção da chamada “identidade digital” dos filhos. Por que antecipar as coisas e construir um perfil no Facebook para seu filho antes mesmo dele nascer? Ou permitir que crianças abaixo da idade criem uma conta ou façam parte de uma rede social? Quantas vezes, para contornar proibições estipuladas nos termos de uso das redes sociais, as crianças da sua família mentiram a idade – e os pais, algumas vezes, as ajudaram a mentir, com a desculpa de que estão sempre de olho no que elas postam, tornando-se seus amigos nessas redes?
“Ser um pai responsável em plena era digital é, antes de tudo, um desafio”, afirma Tony Anscombe, evangelista em segurança digital da AVG e um dos autores do primeiro eBook brasileiro com conteúdo voltado para a proteção de crianças e jovens na Internet.
“A tecnologia é um grande facilitador se usada com responsabilidade, mas os pais sentem grande dificuldade em acompanhar o ritmo dos seus filhos durante a descoberta e o uso das novidades”, afirma Anscombe. “As regras para usá-las muitas vezes são definidas após o fato ocorrido”, completa o executivo. E, muitas vezes, são desobedecidas pelos filhos. A falta de autoridade dos pais pode trazer muitas consequências indesejáveis para a própria criança, agora e no futuro.
Nos Estados Unidos, um estudo recente realizado pelo Pew Internet Center mostrou que a maioria dos pais, além de se preocupar, tentava ajudar seus filhos a a gerenciar o conteúdo de suas informações digitais. E tinha o hábito de conversar com os filhos a respeito do que postaram na rede.
“Antes que seu filho comece a viver as experiências digitais, fale com ele sobre o que é ou não seguro compartilhar virtualmente. Ensine-o também que tudo aquilo que publica on-line está aí para ficar. Mostre-lhe as regras sociais e de etiqueta virtual e faça-o ser o mais gentil e respeitoso possível”, aconselha a cartilha da AVG. “Ensine seus filhos a nunca enviarem dados pessoais pelo celular em resposta a uma mensagem de texto. Também é adequado não fazê-lo por e-mail, a menos que se tenha absoluta certeza de quem é o destinatário e que essa informação não passará por ambientes públicos ou pessoas desautorizadas”, continua.
Quase todos os pais consideram os seus filhos perfeitos e acreditam que nunca farão nada de errado. Não conte com isso. Como bem lembra Anscombe, as crianças são “projetadas” para explorar e descobrir o que é a vida. E a exploração do mundo digital é muito mais difícil de controlar.
Por onde começar, então? Por exercer a autoridade pai, estabelecer e monitorar o cumprimento dessas regrinhas de ouro.
O e-book da AVG propõe um debate entre diversas instâncias da sociedade em torno da nova realidade de informação e conexão de crianças e jovens e da necessidade de orientar pais e educadores para que estes possam, de fato, estar preparados para instruir essa população mirim que vem entrando cada vez mais cedo no mundo virtual.
Quem deve educar os jovens sobre segurança e privacidade na Internet, pais ou escolas? Os pais devem controlar os conteúdos vistos e postados por seus filhos? Até onde vai a privacidade das crianças na rede e até onde seus pais devem interferir? Qual é o papel do poder público diante de violações e crimes contra crianças na Internet? São questões que teremos que enfrentar.
“Com centenas de casos de exploração sexual, bullying e violência contra jovens e crianças na Internet sendo expostos todos os dias nos noticiários, o tema do livro e a necessidade do debate se mostram fundamentais”, explica Mariano Sumrell, diretor de Marketing da AVG Brasil. “Acreditamos que o eBook possa ser o início de uma série de ações que fortaleçam a discussão e gere iniciativas concretas para a proteção de nossas crianças”, completa Sumrell.
Entre elas, estão:
FONTE: IDG NOW