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N o t í c i a s

29/8/2013
Como Apple e Microsoft estão transformando seu computador em um smartphone

A gloriosa era do estrelato do PC acabou. Antes considerados como a “rainha” do baile da tecnologia, os desktops e notebooks agora dividem os holofotes com os smartphones e tablets, e a adoção dos dispositivos móveis pelos consumidores provocou mudanças profundas no cenário da computação.

Os PCs não estão morrendo, mas estão mudando de forma para se tornar mais similares aos “novos brinquedos” desejados pelos consumidores. E há bom motivo para isso. “Os consumidores são basicamente atraídos pela simplicidade e familiaridade”, diz Carolina Milanesi, vice-presidente de pesquisas em tecnologia para o consumidor no Gartner.

Em uma palavra, as pessoas anseiam consistência. E à medida em que a indústria luta para satisfazer esta demanda, os design para os dispositivos móveis está “contaminando” o desktop, embora os “três grandes” sistemas operacionais para computadores pessoais estejam abordando a convergência de formas radicalmente diferentes.

“A filosofia da Microsoft é ‘OK, queremos ser consistentes em todos os nossos sistemas operacionais’ e a forma como decidiram atingir esse objetivo foi criar um sistema só para tudo”, diz Ben Bajarin, diretor de tecnologia de consumo da Creative Strategies. “Já a Apple disse: ‘Bem, vamos fazer dois sistemas, mas ter gestos e alguns aspectos da interface em comum, para que a experiência geral seja consistente”.

E nem chegamos ao que está acontecendo no mundo Linux, com o audacioso Ubuntu Touch da Canonical. A seguir examinaremos como elementos do mundo móvel estão se infiltrando no Windows, OS e até mesmo no Linux.

Windows 8

Determinada a acelerar suas ambições no mercado móvel, a Microsoft deu ao Windows 8 apps mais adequados para uso em tablets, controles por gestos e uma nova Tela Iniciar com “blocos dinâmicos” (Live Tiles) como no Windows Phone. Mas o desktop tradicional ainda está disponível. É o melhor dos dois mundos, certo? Não exatamente.

Projetar um único sistema operacional capaz de rodar em múltiplos formatos de hardware levou a alguns problemas de usabilidade gritantes. Em vez de parecer um sistema operacional unificado, o Windows 8 está mais para um Frankenstein, com o desktop e a interface moderna cruamente costurados um ao outro em vez de trabalhando de forma coesa.

“Quando a Microsoft começou a falar sobre o Windows 8, havia muito otimismo ao redor dele, já que somos uma geração que prioriza a mobilidade, a computação móvel é importante e a Microsoft estava tentando uma unificação”, diz Bajarin. “O problema é que a empresa fracassou na implementação”.

Embora os fãs do desktop consigam “se virar” com a interface moderna, seus botões grandes e espaços vazios claramente foram projetados para toques e gestos em vez de mouse e teclado. Todo o espaço vazio na tela exige rolagem extra com o mouse, e a ausência de informações diretamente visíveis exige muitos cliques extras para acessar menus. E menus ocultos e barras de atalhos podem funcionar bem em tablets, mas não parecem tão naturais em desktops.

O problema não é limitado apenas aos PCs. Tentar usar o desktop do Windows num tablet é um exercício em frustração, por causa da fontes pequenas e botões menores ainda em software “clássico” (ou seja, os milhares de programas escritos para quaisquer versões anteriores do Windows). “Parte do problema em usar um aparelho com tela sensível ao toque é que, no instante em que você deixa o ambiene moderno, mal consegue usar o toque”, diz Bajarin.

Alguns ajustes e utilitários cruciais só funcionam no desktop, enquanto outros apenas na interface moderna. Por causa disso o Windows 8 tem o péssimo hábito de arrancar o usuário de uma interface e jogá-lo na outra quando menos se espera. Uma experiência desconcertante, para dizer o mínimo.

Por outro lado, depois que você supera a substancial curva de aprendizado a experiência consistente no Windows 8 lhe permite usar qualquer hardware com o sistema operacional, independente do formato, sem um período de adaptação.

A longo prazo, especialmente após o lançamento do Windows 8.1, os benefícios da abordagem da Microsoft podem superar as atuais dificuldades. Mas a curto prazo, a Microsoft pode estar forçando os consumidores acostumados ao desktop a dar um passo maior do que suas pernas.

Mac OS X

O lado inverso da moeda da convergência é a Apple. Dada a força da empresa no mercado de dispositivos móveis, você poderia acreditar que a empresa estaria ansiosa para fundir o iOS e o OS X, mas até o momento ela adotou uma abordagem muito mais cautelosa.

O extenso alcance do iPad e iPhone está certamente afetando os Macs, mas de uma forma muito mais sutil. O OS X Lion introduziu elementos do iOS como o LaunchPad, a Mac App Store e apps em tela cheia ou rodando dentro de uma sandbox. O OS X Mountain Lion adicionou uma gama maior de gestos multitoque, uma central de notificações, o iCloud, um app de mensagens e alguns apps nativos que apareceram primeiro nos dispositivos móveis. E o OS X Mavericks, que será lançado ainda neste ano, adiciona ao “pacote” o Maps e o iBooks.

São passos pequenos, em vez de um súbito e traumático mergulho rumo a algo novo e desconhecido como no Windows 8. E a cada passo no caminho a Apple tentou integrar os recursos do iOS ao contexto do desktop do OS X, em vez de simplesmente forçar uma peça redonda a se encaixar em um buraco quadrado. A Central de Notificações no OS X não é uma cópia exata da versão no iOS, por exemplo, embora no geral se comporte da mesma forma.

O lado negativo desta abordagem, claro, é que a Apple não tem exatamente os mesmos apps e interface em toda sua linha de hardware, ao contrário do Windows 8. Mas os especialistas concordam que isso é algo bom.

“O Windows 8 se parece com dois sistemas operacionais drasticamente diferentes, e dois paradigmas de interface drasticamente diferentes, lutando pra fazer a mesma coisa”, diz Bajarin. “A Apple deixa um PC ser um PC, e um dispositivo móvel ser um dispositivo móvel. Semelhanças e consistências existem, mas não estão quebrando o paradigma”.

“Gostei de ver que a Apple foi mais gentil ao introduzir elementos da mobilidade”, diz Wes Miller, um vice-presidente de pesquisa da Directions on Microsoft. “Não vou dizer que nunca haverá um Mac com uma tela sensível ao toque. Mas se ele aparecer, acredito que a Apple irá se certificar antes de que a App Store esteja pronta”.

Ambos os especialistas admiram a forma como a Apple integrou elementos multitoque nos Macs usando um touchpad, em vez de telas sensíveis ao toque. Os touchpads permitem o uso de gestos de uma forma que parece muito mais natural do que levantar as mãos do teclado ou mouse e esticar o braço para “cutucar” o monitor, minimizando o impacto físico do toque em seu fluxo de trabalho. Tecnicamente o Windows 8 oferece a mesma coisa, mas a maioria dos touchpads em notebooks é horrível.

Não espere que a convergência entre Macs, iPhones e iPads termine com o OS X Mavericks. Como aponta Miller, o site do iCloud foi recentemente atualizado com um visual “muito similar ao do iOS 7. Isto me faz pensar que poderemos esperar, em 2014, um OS X com um visual na mesma linha”.

Ubuntu

Podem abaixar as pedras! Eu sei que o Linux é um ecossistema complexo e variado resultante da interação de um número quase infinito de distribuições (ou “distros”) e interfaces. Mas neste artigo tenho que focar em apenas uma “versão”, e é o Ubuntu, que chamou a atenção com a (fracassada) campanha de crowdfunding do Ubuntu Edge.

De certa forma, o Ubuntu Touch e o smartphone Ubuntu Edge são ainda mais avançados que os ecossistemas da Microsoft e da Apple. O Ubuntu Touch funciona de forma muito similar a outros sistemas operacionais, como o Android, quando você usa um aparelho como um smartphone, com apps, controle por gestos e tudo o mais. Mas quando você conecta um aparelho com o sistema a um monitor, teclado e mouse externos, o aparelho passa automaticamente a rodar um ambiente desktop completo, como um PC com o Ubuntu instalado, com direito a “sudo apt-get install” e tudo mais.

Contatos, fotos, vídeos e outros arquivos podem ser acessados de qualquer lado do sistema. É insanamente ambicioso, e uma prévia do futuro onde um único aparelho poderá lidar com todas as nossas necessidades computacionais. Mas há dois problemas.

Em primeiro lugar, até o momento nenhum fabricante de hardware declarou abertamente que pretende usar o Ubuntu Touch em seus aparelhos. E o motivo provavelmente está ligado ao segundo problema: ainda não estamos vivendo em um mundo onde possamos usar apenas um dispositivo.

“O Ubuntu Edge tem um paradigma de interface muito centrado no futuro”, diz Bajarin. “Não acredito que seja algo que veremos “estourar” logo… acredito que um dia, quando tivermos tanto poder de processamento em nossos smartphones e tablets que não haverá motivo para que eles não possam controlar todas estas outras telas e se tornar todos estes outros PCs. E acredito que o que a Canonical está fazendo com seu software de modo “duplo” é bastante interessante.”

“É um conceito muito intrigante, e podemos argumentar que ao longo dos próximos 5 ou 10 anos, todas a tecnologia necessária estará disponível para oferecer uma experiência tão boa quanto a que você tem hoje em um notebook ou desktop”.

Mas o hoje e o amanhã são diferentes, e não é surpresa que a campanha para o financiamento do Ubuntu Edge não tenha tido sucesso.

Para o infinito e além!

Quer você queira ou não, estamos à vésperas de algo diferente, à medida em que a indústria da computação luta com a gigantesca mudança que está arrastando o PC monolítico para um fururo onde múltiplas telas e experiências consistentes e coesas entre múltiplos dispositivos são a norma. E essa mudança está vindo rápido!

“Se você voltar cinco anos no tempo, para 2008, o iPhone ainda era um recém nascido e as pessoas não tinham certeza de que ele teria sucesso”, diz Miller. O primeiro iPad ainda levaria dois anos para chegar. “A tecnologia está mudando de forma tão incrivelmente rápida que os formatos e interfaces que estaremos usando em cinco anos são algo que nem conseguimos imaginar hoje. Vamos olhar pra trás e rir do que estávamos usando em 2013”.

Os tempos estão mudando, e embora a abordagem cautelosa da Microsoft na fusão de elementos móveis com um sistema operacional desktop possa ser a mais confortável para os consumidores a curto prazo, não se surpreenda em ver Macs e PCs chegando a pontos similares daqui a alguns anos. As estratégias são diferentes, mas o objetivo ainda é o mesmo: consistência.

Quem sabe? Talvez a Microsoft e a Apple acabem no mesmo lugar onde o Ubuntu está tentando chegar.

FONTE: IDG NOW


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