A compra por US$ 250 milhões do The Washington Post por Jeff Bezos, dono da Amazon, gerou uma quase unanimidade entre os jornalistas e analistas do setor de comunicação tanto da mídia norte-americana quanto do Brasil. Todos receberam a notícia como algo alvissareiro, um sinal de que há uma luz no final do túnel para o há muito propalado fim da mídia impressa, em especial, do jornal. Não há dúvidas de que o fato em si abre algumas possibilidades a respeito da reinvenção que esse meio tanto necessita para fazer frente ao impacto da revolução digital. Ele se soma a outras iniciativas no mesmo sentido de multimilionários que decidiram recentemente comprar na bacia das almas títulos nos Estados Unidos.
No entanto, diferentemente de Warren Buffet, que em julho adquiriu parte do jornal Press of Atlantic City, que se uniu a outros 29 títulos de BH Media, divisão de mídia da sua holding Berkshire Hathaway Company, e de John W. Henry, dono da equipe de beisebol Boston Red Sox e do time inglês de futebol Liverpool, que três dias antes de Bezos comprar o Post havia fechado a aquisição do Boston Globe por US$ 70 milhões, o fundador da Amazon é um empresário da nova economia e revolucionou, entre outros, o mercado editorial com o lançamento do e-reader Kindle. A despeito do poder político e de influência que ser dono de um jornal representa, as três transações deixam claro que há uma aposta e uma sinalização de que é necessário preservar esse meio.
No caso do Post, o movimento vai além. Revisão do modelo de negócios, novas plataformas e desintermediação foram as três principais mudanças já assistidas tanto no mercado fonográfico quanto no setor de livros, os primeiros a sofrer, ainda na década passada, o efeito rolo compressor da digitalização. A expectativa agora é que a mídia seja a protagonista da próxima grande onda de transformação. Alguns passos nessa direção já estão sendo dados com a explosão das redes sociais e a democratização da produção de conteúdo que começam a impor uma nova forma de narrativa. No entanto, os gargalos e as lacunas com relação à monetização ainda não foram equacionados. A transição do modelo vigente da mídia de massa para a massa de mídias (parafraseando uma expressão dos meninos do Mídia Ninja) está em curso.
Criação de plataformas que proporcionem a melhor experiência às pessoas que fazem compras online (com a Amazon) e que gostam de ler livros (com o Kindle) é o maior mérito de Jeff Bezos. Esse foco no usuário final é a grande lição que ele pode dar aos donos da chamada mídia tradicional, que muitas vezes ficam tão ensimesmados na sua vaidade e na defesa dos seus próprios interesses que perderam a conexão com seus públicos.
Essa mudança não será fácil nem tampouco suave. Haverá cortes, novos paradigmas a serem incorporados e algumas perdas, especialmente financeiras. A esperança é que ela abra também mais possibilidades de engajamento e que resgate de alguma forma a relevância que os jornais já tiveram em outros tempos.
FONTE:
Meio & Mensagem