Todos os anos as associações soltam a mesma informação: faltam profissionais qualificados. O Brasil vive um apagão de mão de obra. Sim, é verdade. Vivemos um grande problema, mas essa carência de gente para trabalhar em tecnologia da informação e em diversos outros setores da economia não é suprida não apenas pela falta de gente formada, mas pela falta de pessoas bem qualificadas. A baixa qualidade do ensino de base acrescida de uma formação duvidosa no ensino superior são os ingredientes que engrossam esse mingau. Mas se a perspectiva é tão ruim, o que fazer? A resposta pode estar em ações simples.
É cada vez mais comum encontrar em instituições projetos que visam a melhorar o aprendizado do aluno, agregar conhecimentos distintos da área de formação mas que, de alguma forma, serão valorizados pelo mercado. Um desses exemplos vem da Bandtec, faculdade de tecnologia vinculada ao tradicional Colégio Bandeirantes, em São Paulo. Em conversa recente com diretores da instituição, chamou a atenção da reportagem uma iniciativa da instituição de incluir na formação dos alunos de TI, ou seja, estudantes de exatas, algumas aulas com viés de humanas.
Batizada inicialmente de Projeto H, a iniciativa foi bem recebida e virou programa fixo na grade da Bandtec. A iniciativa é simples, não requer grandes investimentos, mas gera um valor imenso ao profissional. Em síntese, funciona da seguinte maneira: os alunos têm encontros semestrais, não obrigatórios, onde durante todo o período de aula, em torno de três horas e meia, eles trabalham o desenvolvimento de capacidades que faltam aos profissionais de TI, como comunicação e liderança.
Como explicou o professor Luiz Bido, psicólogo que ajudou a criar o programa, os alunos são incitados ao autoconhecimento, às relações com terceiros, liderança e motivação, responsabilidade social, carreira e formação continuada. É como um coaching partilhado ao longo da formação. “Queremos promover valores humanos na carreira acadêmica e profissional. Construir escopo, uma atitude que o mercado reconheça. Para que num processo de seleção a pessoa olhe e pense: ‘Esse cara pode conversar, lida com grupo, olha a TI de outra maneira, lida bem com gente’. E isso é um diferencial.”
O Projeto H, juntamente com o escritório de projetos, onde os alunos lidam com problemáticas do dia a dia corporativo, são formas que a Bandtec encontrou de aproximar o aluno com a realidade do mercado e também, ao final do curso, entregar um profissional mais bem preparado. Claro que não existe um molde que se adapte a tudo, mas, ao menos, essa pessoa conseguirá discernir melhor os problemas e virá com algumas habilidades que muitos executivos de TI acabaram não desenvolvendo por virem de um mundo onde para ser CIO bastava ser bom de tecnologia.
Esse tipo de abordagem não é em si uma grande novidade. Para quem conhece universidades estrangeiras, como o MIT, nos Estados Unidos, sabe que isso existe, mas é que agora o conceito começou a se popularizar no Brasil. Se você observar, outras instituições como Fiap, Impacta, têm buscado formatar parcerias para melhorar a formação e entregar um profissional cada vez mais completo, mas, enquanto a base não melhorar, esse desafio será constante e sempre de alta complexidade.
FONTE: IT WEB