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N o t í c i a s

22/5/2013
A TV fora da TV

O modo de ver TV está mudando. A ideia de ficar na frente do aparelho num horário definido pela emissora para ver seu programa preferido faz cada vez menos sentido. Os gravadores digitais de vídeo - que fizeram pouco sucesso no Brasil - começaram essa mudança, que foi aprofundada pelos serviços de vídeo via internet, como a Netflix. Hoje é possível ver uma boa parte do que se quer ver na hora em que se quer ver.

A estrutura tradicional da televisão - organizada em canais, com grade de programação - só existe por questões históricas. O espectro radioelétrico - dividido em canais - é um bem escasso. Por isso, seu uso precisava ser otimizado. A solução foi transmitir o mesmo programa para milhões de espectadores, como é feito na televisão aberta. Mesmo uma rede híbrida de cabos coaxiais e fibras ópticas - que suporta os serviços de TV a cabo - tinha restrições sérias de capacidade, na época da TV analógica. Com a digitalização, essas restrições começaram a cair. Com a expansão da fibra nessa infraestrutura, elas deixaram de existir. Hoje o sinal pode ser exclusivo para você.

Esse cenário representa um desafio para a indústria da televisão. Neste mês, a Nielsen, que faz a medição de audiência nos Estados Unidos, divulgou dados sobre um grupo de espectadores que ela chamou de "Zero-TV". Cerca de 95% das residências americanas têm TV a cabo ou via satélite. Os outros 5%, que não tem televisão paga, são os "Zero-TV". Eles consomem TV de outra forma.

Cinco por cento pode parecer pouco, mas são 5 milhões de domicílios. É uma tendência em crescimento nos EUA. Em 2007, por exemplo, eram 2 milhões. Praticamente metade desses consumidores (48%) assina um serviço de vídeo via internet, como Netflix, Hulu Plus ou Amazon Prime (os dois últimos não estão disponíveis no Brasil). Mais de 75% dessas residências têm pelo menos um aparelho de televisão, usado principalmente para ver DVDs, jogar videogames e navegar na internet. Sessenta e sete por cento usam outros dispositivos, como computadores, smartphones e tablets, para consumir conteúdo audiovisual. A Nielsen não ainda não mede a audiência desses dispositivos.

Os videogames são importantes nessa tendência. No ano passado, 22% do tempo que os americanos gastaram com um aparelho de videogame não foi com jogos, mas consumindo conteúdo audiovisual. Em 2011, a fatia do tempo dedicado a vídeos era de 19% e, no ano anterior, de 13%. Quem puxou a tendência foram os usuários do PlayStation 3, que dedicaram 25% de seu tempo a serviços de streaming (em que os arquivos não precisam ser baixados) e de vídeo sob demanda no ano passado, comparados a 15% em 2011.

Diante desse cenário, a Netflix e a Amazon resolveram investir em programação inédita. A série House of Cards, produzida pela Netflix, tem como ator principal Kevin Spacey, ganhador do Oscar com Beleza Americana, e como produtor executivo David Fincher, diretor dos filmes O Curioso Caso de Benjamin Button e A Rede Social. Os 13 episódios do drama político estrearam de uma vez só na Netflix, em 1.º de fevereiro.

A Netflix sabe, porque tem registrado o hábito de seus assinantes, como as pessoas gostam de ver séries. E os espectadores gostam de assistir a uma temporada inteira praticamente de uma vez. Ou, pelo menos, de ver vários episódios num só dia. No dia anterior à estreia da quinta temporada de Breaking Bad nos EUA, 50 mil assinantes da Netflix assistiram a todos os 13 episódios da temporada anterior, de uma vez. A série que conta a história do professor de química que se transforma em chefão das drogas tem mais audiência na Netflix que na AMC, canal que a produz.

O objetivo da Netflix, anunciado expressamente pela empresa, é se transformar na HBO antes que a HBO se transforme na Netflix. Assim como a Netflix começou como uma locadora de filmes, se transformou num serviço via internet e agora começou a produzir conteúdo próprio, a HBO, antes de produzir séries premiadas como The Wire e Game of Thrones, era um canal que comprava filmes de terceiros. A estratégia da produção própria, adotada há 30 anos, foi uma maneira de se diferenciar e de se tornar menos dependente dos estúdios.

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FONTE: Estadão


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