O termo tecnologia criativa surgiu nas agências de publicidade. Com recursos e ferramentas modernas cada vez mais próximas do dia a dia das pessoas, muito do que estas empresas criavam para os anunciantes passou a exigir o suporte de hardware e de software. Hoje o conceito vai além da publicidade e a união entre criatividade, tecnologia e negócios se transformou na engrenagem principal tanto para startups quanto para organizações dos mais variados setores que buscam a inovação.
Antes, falar em tecnologia criativa significava buscar profissionais que tivessem algum conhecimento do meio digital e que fizessem a ponte com os conceitos criados pela equipe de criação. Agora as companhias buscam pessoas que já tenham estes conhecimentos integrados, pois a área extrapolou o meio publicitário e se tornou essencial para o desenvolvimento desde peças de comunicação digital até negócios inteiros. Empresas como a Estante Virtual e a Boo-Box são consideradas grandes cases de aplicação da tecnologia para o desenvolvimento de serviços inovadores. O detalhe: em ambos os casos, foram os próprios fundadores que usaram seus conhecimentos em informática e programação para criar e aperfeiçoar as soluções que viriam oferecer ao mercado.
As companhias mais antigas e tradicionais também vêm adotando a tecnologia criativa para aplicações em seus negócios, o que torna este perfil de profissional bastante requisitado. O cenário se tornará ainda mais aquecido nos próximos anos, acompanhando o investimento cada vez maior das marcas no digital. “As empresas de maneira geral ainda não percebem a importância de ter pessoas de tecnologia criativa no desenvolvimento dos seus projetos. Muito se fala a esse respeito, mas os gestores pensam nisso como algo para o futuro. Eles não entendem que quem largar na frente agora terá grande vantagem. Por esta razão este movimento ainda não explodiu no Brasil”, explica Dráusio Tronolone, Coordenador do curso de Tecnologia Criativa da ESPM, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Empresas com base na tecnologia criativa
Entre as startups, o conceito de tecnologia criativa é bastante difundido. Estas empresas, em geral, nasceram tendo como núcleo soluções desenvolvidas a partir de ferramentas digitais. Em alguns casos, produtos e serviços gerados por elas quebraram paradigmas, enquanto em outros, estas empresas criaram um novo segmento de atuação. A Boo-Box é um exemplo. Criada por Marco Gomes quando ele ainda tinha 20 anos (http://www.mundodomarketing.com.br/entrevistas/27013/boo-box-de-uma-ideia-a-plataforma-para-disputar-com-google-e-facebook.html), a empresa nasceu oferecendo um inovador sistema de anúncios em canais online, que permitia ao anunciante estar em milhares de sites negociando um único pacote de mídia. Hoje, a Boo-Box compete com gigantes como Google, Facebook e grandes portais da web.
A Dzenhando Ideias é outro exemplo que nasceu oferecendo soluções tecnológicas para conquistar o seu espaço no mercado. A empresa desenvolve aplicações de Marketing para seus clientes e usa a tecnologia para criar soluções diferenciadas. O projeto começou a ser rascunhado durante os anos em que Aziz Camali Constantino trabalhou como analista de Marketing em uma construtora. “Minha grande escola foi trabalhar em uma construtora para conectar criatividade e negócios. Fiquei três anos lá e assim tive esta percepção. Não segui o caminho tradicional de crescer dentro de uma grande agência e resolvi abrir meu próprio negócio. Hoje, é fundamental termos um braço de tecnologia, o que nos permite entrar em segmentos que jamais poderíamos imaginar”, conta Aziz Camali Constantino, Sócio-fundador do Dznhando Ideias, em entrevista ao portal.
Entre as soluções oferecidas por Aziz está uma operação específica para transmissão de eventos a partir da filmagem aérea com um quadricóptero, que pode ser controlado via iPad com o auxílio de um aplicativo específico. A empresa também desenvolve sistemas de monitoramento de grandes obras com o uso da pequena aeronave. Outro produto que está em fase de testes é um sistema voltado para instituições de ensino, que sistematiza o processo de correção de provas, analisa os dados e emite relatórios. “O desafio é não pensar em tecnologia, mas sim em qual é o problema do cliente e daí aplicar a tecnologia na solução. Ela potencializa negócios e nos permite entrar em diversos mercados diferentes. O sistema de correção de provas é um bom exemplo, pois nos permite entrar em um mercado inteiro”, explica o sócio da Dzenhando Ideias.
Tecnologia diminui barreiras para as pequenas
O barateamento das ferramentas digitais também permite que pequenos negócios ganhem terreno e comecem a competir com grandes grupos. Grande parte das startups nasce como pequenos empreendimentos e sem o aporte de investimentos vultuosos, mas conquistam espaço por se adaptarem aos novos formatos com maior velocidade que as empresas maiores. A Kombat Filmes é uma produtora carioca que nasceu da sociedade entre três amigos e teve a tecnologia criativa como aliada. “A associação entre tecnologia e criatividade é fundamental. Isso está mudando o mercado, pois democratizou tanto o software quanto os equipamentos de captura, permitindo que mais pessoas mostrassem o seu talento”, conta Gabriel Mattar, Sócio Diretor da Kombat Films, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Foi a percepção de que o mercado estava mudando de formato que permitiu a Gabriel e seus sócios vislumbrarem uma oportunidade entre 2005 e 2006, quando a empresa foi fundada. “Percebi que o mercado brasileiro naquela época ainda operava nos moldes antigos. Fora do Brasil, existiam estúdios menores e que faziam um trabalho mais caprichado. Vi que havia a possibilidade de trazer este formato para cá. Logo de cara, conseguimos a Taco como cliente. O objetivo é atender os clientes como uma boutique, de maneira diferenciada, com um foco mais artístico”, diz Gabriel.
Os modelos baseados em novas tecnologias tendem a ganhar cada vez mais espaço, na mesma proporção em que as marcas aumentam gradativamente o investimento em digital. “Na Inglaterra, por exemplo, o investimento no online já é maior que o offline. Por aqui é apenas uma questão de tempo. É uma equação simples: pelo custo que eu produzo um vídeo no digital, por exemplo, não seria possível sequer alugar uma grua para produzir nos moldes tradicionais. As marcas estão fazendo esta conta, é inevitável”, complementa Dráusio Tronolone, Coordenador do curso de Tecnologia Criativa da ESPM.
Mão de obra em falta
A maior integração entre Marketing, tecnologia e criação faz surgir uma outra questão: quem são os profissionais qualificados para assumir estas funções dentro das empresas? Não há mão de obra qualificada suficiente para atender a demanda atual. Como solução provisória, as organizações vêm contratando profissionais que tenham um perfil intermediário, complementando sua formação no dia a dia. “A mão de obra é desqualificada por conta de dois pontos: capacitação ruim e vícios de mercado. As empresas obrigam as pessoas a focarem em apenas uma atividade. Logo, elas não conseguem ver além daquilo que estão acostumadas a fazer. Hoje é muito melhor no nosso caso buscar estagiários que estão dispostos a aprender tudo do que lidar com alguém formado e com experiência”, conta Aziz Camali Constantino, do Dznhando Ideias.
Tradicionalmente, pessoas com formação em tecnologia e outras da área de Marketing ou comunicação tinham perfis bastante diferentes, o que dificultava o diálogo. A nova geração tem maior intimidade com estas ferramentas, mas apenas isso não resolve. “É complicado contratar para a área. Muitos têm acesso ao equipamento e ao software, mas o diferencial ainda é o olhar. É ele que faz a diferença e não necessariamente a tecnologia. E este ainda é um ingrediente difícil de ser encontrado, pois garante a associação entre as ideias e os recursos hoje existentes”, complementa Gabriel Mattar, da Kombat Filmes.
Para atuar com tecnologia criativa, a curiosidade e visão 360° são tão ou mais importantes que a área de formação. Profissionais de Marketing, engenheiros, administradores, publicitários, designers, cineastas são os perfis mais comuns no curso da ESPM. Mas a formação é aberta a todas as áreas do conhecimento. “A tecnologia criativa dá um ferramental não apenas técnico, mas também filosófico e de posicionamento para que o profissional entenda a mecânica de um determinado ambiente. Por isso, o curso é voltado para pessoas curiosas, que gostam de fuçar, que tenham curiosidade para explorar, não importando sua formação original, diz Dráusio, em entrevista ao portal.
FONTE: Mundo do Marketing