A abertura do mercado de telecomunicações brasileiro às operadoras móveis com rede virtual (as chamadas Mobile Virtual Network Operators, ou MVNOs), além de aumentar a oferta de empresas que prestam o serviço, vai permitir atingir públicos cada vez mais específicos. A perspectiva é que essas operadoras atuem em nichos, focando em atendimento e serviço customizados para seu público-alvo. "Em vez de vender minutos de voz para o cliente, ela vai vender para o atacado, que irá revender aos clientes", explica o presidente da Teleco, Eduardo Tude.
A discussão sobre a implantação de MVNOs no Brasil não é nova, mas só ganhou força com a dificuldade das atuais (Mobile Network Operators, ou MNOs) em captar novos adeptos ou garantir a fidelidade dos atuais. "As taxas de desligamento são altas, assim como o custo para conquistar o cliente", analisa o presidente a Teleco. Ele aponta esse como um dos principais motivos para o interesse das empresas que já atuam no setor de telefonia móvel pela captação por meio de MVNOs. "A gente já vê as operadoras com grupos internos para analisar os modelos", atesta.
Um dos desafios para a expansão desses modelos, contudo, está relacionado à infraestrutura. Como a criação de operadoras móveis virtuais não implica ampliação do espectro ou da rede, é preciso assegurar suporte para a demanda sem causar prejuízos ao cliente. "Ela precisa ter capacidade para atender isso", adverte Tude. Recentemente, as quatro empresas que atuam no País foram punidas por não prestarem serviço de qualidade em determinados estados. "Certamente isso pode fazer com que algumas operadoras tenham menos interesse no MVNOs, por não terem capacidade", opina o presidente da Teleco.
Para o vice-presidente sênior da Virgin Mobile para a América Latina, Jeffery Buckwalter, as operadoras de origem devem aumentar a capacidade de rede para suportar os clientes da MVNO, bem como seus próprios clientes. O executivo, que participou em setembro do Fórum Mobile+, em São Paulo, revelou que a empresa pretende entrar no mercado brasileiro no segundo semestre de 2013, focando no público jovem.
Além da Virgin Mobile, outras empresas já se candidataram a ter uma MVNO no Brasil. A falta de segmentação no mercado, a insatisfação dos clientes e as novas oportunidades de serviços são apontados por Buckwalter como pontos favoráveis a essa abertura. A demora no processo de licenciamento e a relutância anterior das operadoras em aderir ao modelo, contudo, são vistas pelo executivo como fatores que interferem no lançamento de MVNOs no País. "As MNOs estão incertas sobre como estruturar a relação com as MVNOs. Os requisitos para firmar as interconexões também são complicados e demandam tempo. O resultado é o atraso no lançamento das operadoras virtuais", entende.
No mundo, são 760 MVNOs - mais da metade operando na Europa, contra 11 na América Latina. Tude destaca que Alemanha e Holanda são os países onde essa tecnologia mais se proliferou. Aqui no Brasil, a primeira operadora virtual foi a Porto Seguro Conecta, ativada em junho de 2012 e focada em atender a funcionários e clientes da empresa. No último levantamento da Teleco, em agosto, a MVNO contava com 8 mil pontos de acesso. "A tendência é que ela tenha uma parcela muito pequena de mercado", avalia Tude.
Regulamentação prevê dois modelos
A regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), expedida em 2010, prevê dois modelos de MVNOs: autorizadas e credenciadas. Nos dois casos, planos e tarifas especiais podem ser negociados entre operadora móvel e de origem. As autorizadas de rede virtual trabalham com recursos de rede e espectro alugados, mas têm as mesmas obrigações das operadoras atuais e precisam de licença da Anatel para atuar. Elas podem prestar o serviço em áreas onde a prestadora de origem não possua infraestrutura de alcance, desde que as tecnologias utilizadas sejam providenciadas e licenciadas por ela.
No segundo modelo, as credenciadas atuam como uma espécie de representante comercial da operadora. Elas utilizam a rede, o espectro, a numeração e as interconexões disponibilizados pela prestadora de origem, porém com sua própria marca. Nesse caso, a responsabilidade da Anatel é apenas homologar os contratos firmados. No caso de uma credenciada preferir mudar de operadora, a resolução prevê que ela poderá levar os clientes conquistados.
FONTE: Tecnologia UOL