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N o t í c i a s

22/10/2012
Por que os vídeos virais dão tão certo na internet?

Se alguém lhe disser algo cifrado como "Oppa vive um estilo Gangnam", e a isso associar uns passinhos de dança, a "dança do cavalo", finja entender, faça cara de antenado, vá ao YouTube e descubra o mais recente megassucesso da internet. Trata-se do refrão, em coreano, do clipe irritantemente adesivo de um rapper sul-coreano. Nele, um certo Psy, eis o nome do Michael Jackson de araque, faz críticas ao bairro Gangnam, reduto dos ricos de Seul. Oppa é como as mulheres coreanas chamam os amigos ou namorados mais velhos. Desde que foi lançado, em julho, o vídeo já atraiu mais de 280 milhões de pessoas a seus incontornáveis quatro minutos. Você ainda vai vê-lo. A letra? Pouco importa. A coreografia e o ritmo é que colam. O burburinho criado em volta de Gangnam Style ecoa um fenômeno que tem a idade da internet, mas é ainda pouco compreendido: o viral, um bicho pegajoso. Viral é o status dado ao que é compartilhado milhões de vezes pela web. O termo traduz o fenômeno de multiplicação de um vídeo pelos corredores virtuais. Popularizou-se a partir de 2005 com a criação do YouTube. Os virais parecem bobagem para quem os vê de longe, mas têm moldado o comportamento on-line e off-line.

Existem vídeos de tudo quanto é tipo. Há o do coreano dançando. O de um americano admirando um arco-íris (soma 35 milhões de acessos), outro de um cão pulando em uma cama elástica (2,5 milhões) e o clipe de Ai Se Eu Te Pego, do neossertanejo Michel Teló (o brasileiro mais visto, com 436 milhões). Não há um número preciso de visualizações que se deve atingir para ganhar a alcunha de viral. Passar do primeiro milhão concede crédito. Superar 100 milhões consolida o vídeo: na prática, ele ganha algumas linhas de explicação na história da internet. O que chegou mais depressa à marca é o Kony 2012, manifesto contra um líder miliciano em Uganda. O mais visto até hoje é o da música Baby, do cantor Justin Bieber, com 800 milhões de visualizações. Descartados os virais de produção profissional, o campeão é Charlie Bit My Finger - Again, que mostra um bebê mordendo o dedo do irmão, com 483 milhões.

Não se sabe ao certo qual é a razão de tanto sucesso, por causa da diversidade de temas. Mas eles costumam ser de fácil compreensão, com apelo emocional, danças engraçadas e músicas chiclete.

Cenas simpáticas - Um olhar cuidadoso aos virais que conseguem mais acessos permite identificar características comuns. "A fórmula ainda está em construção e reproduzi-la é o novo grande desafio para publicitários e produtores de filmes e músicas", disse a VEJA o americano Kevin Allocca, responsável pela equipe do YouTube que analisa como surgem os campeões de audiência, como ganham popularidade e o que os faz explodir. O tema dos vídeos costuma girar em torno de assuntos de fácil compreensão e apelo emocional: bebês e animais em cenas simpáticas, danças engraçadas, músicas. Filmes mudos ou para os quais não é preciso ter proficiência na língua falada para entender o que é dito alcançam o sucesso mais rápido. Resumiu a VEJA o programador inglês Howard Davies-Carr, que filmou seus filhos no vídeo Charlie Bit My Finger - Again: "O apelo universal da fofura das risadinhas dos meus filhos é o que fez o filme se multiplicar. O sotaque inglês deles deixa a cena ainda mais agradável, mesmo para quem não fala o idioma". Os virais se espalham primeiro pelo famoso boca a boca, ou melhor, de e-mail para e-mail. Sites de humor e redes sociais promovem discussões e piadas sobre os vídeos. É normal surgirem paródias e versões de terceiros. Brincadeiras que tiram sarro de Gangnam Style figuram entre as mais vistas da web. Naturalmente, por óbvio, o brasileiro Latino tirou sua casquinha e tratou de lançar uma versão brega da canção sul-coreana. Os vídeos estouram quando celebridades da web, por gostar deles (ou odiá-los), começam a replicá-los para seus fãs. O sucesso então sai do mundo virtual e parte para o real.

Os virais criam discussões fervorosas, alçam anônimos ao estrelato e lançam moda e hábitos, tanto no universo on-line quanto no off-line. O cantor adolescente Justin Bieber apareceu em vídeos que publicava no YouTube. Agora, tem 28 milhões de fãs no Twitter, faz shows ao redor do mundo, participou de séries de TV e ganhou um filme sobre sua carreira. Seu estilo de se vestir, seu corte de cabelo e seu palavreado são replicados por adolescentes. A música é uma das indústrias mais transformadas. Nove dos dez virais mais vistos são clipes. Agora mesmo, neste fim de semana, o YouFest reúne em Madri, na Espanha, artistas que surgiram na internet. Talvez seja o único evento divertido do momento numa Espanha ferida pela crise do desemprego.

O impacto do viral também pode ser político. Apesar de conter diversos erros de informação, o vídeo Kony 2012 inflou discussões sobre a situação de crianças raptadas por milicianos na África. Discursos do presidente Barack Obama chegam a ser vistos por mais de 5 milhões de pessoas - e produções que criticam seu governo atingem patamar similar. Um filme que faz piadas de mau gosto com o islamismo serviu de ridículo pretexto para revoltas que culminaram em um ataque ao Consulado dos Estados Unidos em Bengasi, na Líbia, e no assassinato de um embaixador americano. Não raro, os virais rendem fortunas. O pai de Charlie, do Charlie Bit My Finger, lucrou 500 000 dólares com anúncios vinculados ao vídeo.

O hit do momento, o Gangnam Style, é um caso cujo impacto abrange todos esses aspectos. Sua letra que critica a elite sul-coreana despertou discussões até sobre gastos excessivos em cartões de crédito na Ásia. O rapper Psy ganhou fama internacional e novos contratos. Disse a VEJA Robert Kyncl, vice-presidente do YouTube: "Os virais mudaram diversos aspectos do cotidiano e a forma como nos comunicamos. Antes, canais de TV peneiravam quem se comunicava com grandes audiências e determinavam as celebridades. Essa barreira acabou".

Os vídeos virais fazem tanto sucesso que os fãs acabam fazendo outros vídeos com imitações, repostas ou paródias. O clipe das Empreguetes- que ficou famoso na novela Cheias de Charme- ganhou várias versões. Uma dessas versões tem três adolescentes cantando como é difícil a vida de “alunete”.

Como você já deve ter percebido não há receita para transformar um vídeo em um fenômeno na internet. Basta usar a criatividade, criar imagens interessantes e fazer uma boa divulgação do seu vídeo.

FONTE: VEJA Abril


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