A classe C não é exceção, não é um nicho de mercado, é a realidade brasileira. A opinião é do sócio-diretor de A Ponte Estratégia, André Torreta, que, a convite da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio). A novidade não está na chegada da Classe C no varejo digital, mas na força com que eles chegaram a esse mercado.
Segundo o presidente do Conselho de Tecnologia da Informação e Comunicação da Fecomercio, Renato Opice Blum, “o faturamento do e-commerce já é maior do que a soma de todos os shoppings de São Paulo”, contextualiza Blum com dados da Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (e-PCCV), realizada pela Fecomercio em parceria com a e-Bit.
Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de pesquisa Data Popular, avalia que “a internet radicalizou o poder de escolha e de comparação de preços e produtos que o controle da inflação concedeu há 15 anos”.
Segundo ele, houve uma democratização da informação e, com ela, do poder de compra. “Há quatro anos, as pessoas se perguntavam se a classe C estava na internet. Hoje, é impossível fazer qualquer plano de comércio sem considerar esta classe”.
De acordo com dados do instituto de pesquisa Data Popular, a classe C é responsável por 78% do que é comprado em supermercados, 60% das mulheres que vão a salões de beleza, 70% dos cartões de crédito no Brasil e 80% das pessoas que acessam a internet.
“A nova classe média movimenta R$ 273 bilhões na internet por ano somente com seu salário, se considerarmos o crédito disponível à ela, esse montante dobra”, informa Meirelles. Mas a classe C não impactou somente o e-commerce. Segundo dados da e-Bit, 50% das vendas realizadas no varejo tradicional são influenciadas por pesquisas de preço, opinião e informações sobre os produtos realizadas na internet.
De volta ao varejo digital, a e-Bit estima que, até o final do ano, o universo de brasileiros que realiza compras pela web deve alcançar 28 milhões de pessoas. “Os produtos mais comprados pela classe média na internet são: eletrodomésticos, informática, livros e telefonia celular”, comenta Pedro Guasti, diretor geral da e-Bit. “Em média, por mês, o gasto médio das famílias com renda de até R$ 3 mil é de R$ 321”, completa.
E como se deu o crescimento da utilização da internet por essa classe? Segundo Meirelles, é preciso entender que, enquanto a classe A procura exclusividade, a classe C está interessada em inclusão. “O custo de acesso é dividido entre várias pessoas que dividem uma rede via wi-fi”, explica. “Hoje, 50% da internet de banda larga é utilizada por esta classe.”
Já Torreta, de A Ponte Estratégia, avalia que a “digitalização” da nova classe média está se dando via celular, não pelo computador. “Há 230 milhões de linhas de aparelhos móveis no Brasil. Pulamos da pré-história para o smartphone.” Contudo, Torreta acredita que as empresas não estão preparadas para lidar com esse salto. “Todos estão falando de geração Y, mas isso não existe no Brasil. O pressuposto dessa geração é já ter nascido com o computador e, se muito, 10% da população se encontra nessa situação”, pondera.
Ele ainda avalia que as empresas falham em avaliar as motivações dos internautas. “Não somos o povo que mais acessa as redes sociais porque somos alegres ou calorosos, mas porque somos pobres. A conta de celular no Brasil é muito cara para ficar conversando, então usamos a rede que é mais barata.”
André Erthal, diretor de Service Experience do Instituto Nokia de Tecnologia, reconhece o potencial que o mercado de telefonia móvel tem e conta que já estão sendo desenvolvidos dispositivos para intensificar a experiência do usuário da web via aparelhos celulares, como telas mais flexíveis e que possam ser expandidas ou retraídas, dependendo da ocasião. Quanto ao custo, da telefonia móvel, ele defende que o governo deveria pensar a internet como uma questão social e que o maior determinante para os preços praticados são os impostos.
Mas se a classe C e a internet estão revolucionando o consumo, também estão gerando novas oportunidades e estimulando novos empreendedores. Uma das ações que desponta nesse sentido é a Impulso, uma associação que disponibiliza microcrédito a microempreendedores que estão começando seu negócio.
“Seguimos o conceito de crowdfunding. Por meio da rede, juntamos recursos de diversas pessoas que estão dispostas a investir em startups e disponibilizamos esses recursos de forma simples e flexível”, explica a presidente da associação, Lina Maria Jaramillo.
Já a Solidarium Comércio Justo tem firmado parcerias para vender produtos que respeitem os preceitos do varejo sustentável em sites de grandes varejistas, como o Walmart. “É uma forma simples de gerar renda para comunidades e conscientizar o consumidor”, aposta Tiago Dalvi, presidente da Solidarium.
FONTE: Artigos E-commerce