Perdi o iPod. Com ele, foram-se 16 GB de músicas coletadas ao longo de um ano, com todo o meu acervo digital. Isso foi há alguns meses, mas até agora não tive tempo para me lamentar. Na verdade, não senti falta de uma música sequer. O pouco que precisava carregar para ouvir por aí baixei. O resto – absolutamente todo o resto – não mantenho mais comigo. Em vez disso, busco na nuvem. E lá tem muito mais opções do que caberia em qualquer aparelho.
Duas coisas me entusiasmam no streaming: o acervo infinito e o acesso fácil. Não é preciso ir longe. O YouTube, por exemplo, é a nova MTV. Uma pesquisa recente da Nielsen mostrou que 64% dos adolescentes dos EUA ouvem música pelo YouTube (este, veja só, nem é um serviço só de música). Por quê? Eu arrisco: é rápido, fácil, simples. Como tudo deveria ser na internet.
Nos países onde grandes empresas de streaming operam legalmente, o modelo se destaca. Na Suécia, terra do Spotify, o streaming cresceu 79% em 2011. Nos EUA, onde o Spotify chegou no ano passado, o crescimento foi de 40%. No mundo da música digital, o streaming ainda gera menos lucros do que os downloads, mas cresce em um ritmo quatro vezes maior. É promissor.
O Spotify conseguiu atingir o equilíbrio entre pagamento de direitos autorais aos músicos – fazendo acordos com gravadoras –, e preço acessível. Cobra US$ 10 por mês para acessar todo o catálogo. Sem restrições. O modelo lhe rendeu quatro milhões de assinantes pagos e 15 milhões de usuários ativos. Ele ainda não chegou ao Brasil – e dá para imaginar a dificuldade, já que o serviço tem de fazer acordos com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Mas há planos: a empresa procura um diretor para “iniciar suas operações na América Latina”. A assessoria não disse se o Brasil está incluído, mas me confirmou a contratação.
Enquanto o Spotify não chega, o streaming no Brasil se resume a serviços como o Sonora, do Terra, e o Rdio, lançado no ano passado. Ambos são legalizados. O Sonora tem dois milhões de músicas e o Rdio afirma ter 18 milhões globalmente, embora parte do catálogo esteja indisponível no Brasil.
E há o Grooveshark. Ele tem um catálogo imenso (postado pelos usuários), mas seu modelo de negócios, sustentado por publicidade, não lhe permitiu a proximidade com as gravadoras como fez o Spotify. Tanto que o site foi banido da Alemanha e seu aplicativo oficial para Android foi removido do Play. Mas continuo entusiasta do modelo – é para lá que eu corro quando quero escutar um disco completo, por exemplo, para conhecer uma banda. O serviço ainda é visto pela maior parte da indústria como pirataria, em vez de divulgação. No Brasil, o Grooveshark não tem acordos para pagar direitos autorais – ou seja, somos piratas ao ouvir música ali.
Fala-se muito no fim da era da propriedade. As pessoas estão deixando de comprar, preferindo alugar casas, carros, bicicletas, roupas. O que era propriedade vira serviço. E é natural que a música siga o mesmo caminho, se isso não esbarrar nas restrições da lei.
FONTE: Blog Estadão