Se você tinha alguma dúvida de que tablets e smartphones estão subvertendo os negócios de tecnologia de consumo, é só olhar o relatório anual da Microsoft.
A empresa reconhece no documento que está assumindo um risco para seu negócio tradicional com os novos tablets Surface da marca. E ela tem uma grande prioridade ao tentar competir com Android e iOS: desenvolvedores. Para qualquer um que esteja seguindo as notícias de tecnologia nos últimos tempos, os reconhecimentos da Microsoft dificilmente são revelações chocantes, mas a companhia raramente admite seus desafios com tamanha franqueza.
O Windows Phone, por exemplo, está enfrentando importantes dificuldades de adoção nos EUA, enquanto o iPhone da Apple e aparelhos rodando Android, o sistema operacional do Google, estão desaparecendo das prateleiras. Mas, se você pedir a um representante da Microsoft que comente os desafios do aparelho, a empresa irá apenas dizer "realmente estamos só começando." Foi isso o que disse em junho, quando o WP7 possuía 1,7% do mercado de smartphones dos EUA, de acordo com métricas da empresa Nielsen. A partir daí, sua quota caiu para 1,3 %.
Saia justa dos tablets
Enquanto a Microsoft se esforça para ganhar posições no mercado de smartphones, tablets com telas sensíveis ao toque, como o iPad, ameaçam minar as vendas dos laptops tradicionais e PCs desktops, que em sua maioria executam Windows. "A proliferação de dispositivos alternativos, como smartphones e tablets, cria desafios entre plataformas de software concorrentes", disse a companhia de Redmond. "Os usuários cada vez mais poderão utilizar esses dispositivos para executar funções que foram realizadas por computadores pessoais no passado.” A empresa de pesquisa de mercado NPD DisplaySearch prevê que as vendas de tablets ultrapassarão as de laptops até 2016.
Não querendo ficar de fora do mercado de dispositivos móveis, e dispostos a confiar em seus parceiros de hardware, a Microsoft está chegando com sua própria linha de tablets com Windows 8, chamada Surface. O problema, porém, é que uma grande parte das receitas da Microsoft vem de licenciamento do Windows para fabricantes de hardware.
Analistas e críticos notaram que o Surface pode alienar os parceiros de software da Microsoft e inspirá-los a procurar por alternativas ao Windows. A companhia está ciente desse problema, e destacou isso ao afirmar no relatório que “nossos dispositivos Surface irão competir com produtos feitos por nossos parceiros OEM (sigla em inglês para Fabricantes Originais de Equipamentos, em tradução livre), o que pode afetar o comprometimento deles com nossa plataforma”.
Novamente, a Microsoft aponta que tem planos para vender tablets Surface apenas por meio de suas lojas físicas e online. Sendo assim, você não irá encontrar o dispositivo junto com aparelhos como notebooks Inspirion ou ThinkPad em lojas como Best Buy, pelo menos por enquanto. E está bem claro que dificilmente a Dell, HP e Lenovo irão se comprometer a vender apenas máquinas com Linux ao invés do Windows. Lançar o Surface é um risco para a Microsoft, mas é um risco calculado.
Cadê os APPs?
Os planos da Microsoft podem cair por terra se a companhia não convencer os desenvolvedores a começar a criar aplicativos touch voltados à interface Metro do Windows 8, assim como expandir a loja de apps do Windows Phone 8. Aplicações móveis são exploradas com maestria pela Apple e pelo Google, companhias anos-luz à frente da Microsoft, e não está claro se a companhia de Redmond pode vencer em terrenos como Instagram, Dropbox e Cut the Rope, por exemplo.
“O prevalecimento desses dispositivos [iOS e Android] pode fazer com que os desenvolvedores não sejam atraídos para nossa plataforma” afirmou a Microsoft. “Precisamos recrutar desenvolvedores que possam criar aplicações para nossa loja e garantir que esses aplicativos tenham alta qualidade, bom preço e cativem o consumidor.
A loja de aplicativos do Windows Phone oferece mais de 100 mil apps a seus usuários, porém o catálogo possui grandes lacunas. Aplicativos populares como Dropbox, HBO Go e Waze estão faltando, e grandes apps têm funções indisponíveis. O Facebook não criou seu próprio, e espera que a Microsoft dê o primeiro passo; o “aplicativo” da empresa para o YouTube é apenas um link para a versão móvel do serviço, e o do Kindle da Amazon não tem funções tão básicas como busca. A fabricante do Windows precisa não só de desenvolvedores mas também equiparar seus aplicativos às versões para Android e iOS.
A Windows Store para Windows 8, disponível atualmente na versão Consumer Preview do Windows 8, oferece um número limitado de apps com a interface Metro. E ainda é um mistério se o catálogo da loja irá expandir com a chegada do sistema operacional em 26 de outubro.
FONTE: CIO UOL